Existe uma pessoa inteira dentro desse corpo. Tudo que vêem e sabem sobre você não a definem. É universo, é inconstância, é transbordar.
Atravessamos fases muito complicadas na vida, são tempos difíceis em diversos aspectos, financeiro, emocional, afetivo. São tempos em que orgulho toma conta, só se vê desamor, não ligo, eu sou assim. Falta empatia, falta se colocar no lugar do outro… e a gente se afeta, não tem como passar imune.
Em tempos assim algumas pessoas são importantes pra gente ter por perto. Quem consegue te ver de uma maneira mais ampla, que embora saiba seu momento e hoje não te veja aplicando para grandes realizações, sabe das conquistas, da capacidade, do potencial e, puxa vida, como é importante o contato com essas pessoas. Parece que ter por perto te faz lembrar de tudo isso nos dias difíceis. Há que se cultivar.
O oposto é válido também. Quem tem contato constante e não se interessa por quem você é, machuca sem saber, porém também sem piedade. Era do self, onde só existe espaço pra falar de si, não se questiona sobre o outro. Existe um militarismo segregativo. Vamos nos apoiar, vamos apoiar as mulheres, mas só as que conseguiram. Só as bem sucedidas, só as com bons projetos, só as com talento, só aquelas que você julga ter espaço de fala. E assim vão se criando necessidades cada vez maiores, pra existir você precisa ser foda, parece um mundo em que o ordinário não tem vez.
O ordinário é incrível, ou melhor, não existe ordinário pois cada um é um universo. É foda ter sido uma esposa há 40 anos atrás, ter renunciado sua carreira, é triste, mas essa mulher está viva hoje e nós não paramos pra admirar, ajudar a ver o outro lado, mostrar ou criar possibilidades. A mãe que pede contato frequente, a parceira que pede carinho, a amiga que está numa pior, será que não é mesmo possível? Será que o eu é tão maior que qualquer relação? Será que a gente não consegue se doar um pouco, ceder, entender?
Embora pessoalmente eu viva e sinta esse tipo de coisa, essa é uma reflexão pra mim também, claro, não me eximo dessa culpa, ou melhor dessa responsabilidade, jamais. Vale sempre o exercício, vale pensar sobre até onde vai seu entendimento e apoio, ele abrange ou segrega?
É um grande lembrete pra mim, espero que sirva pra vocês: você está doando o que é possível? E está recebendo há altura?